Como a extrema direita se apropriou do discurso de proteção às mulheres e meninas para espalhar ódio e exclusão

 Da manipulação do medo ao moralismo disfarçado de cuidado: entenda como grupos extremistas e feministas radicais estão distorcendo o feminismo e os direitos humanos para atacar pessoas trans.


 A nova roupagem do preconceito



O cenário político global dos últimos anos tem sido marcado pelo avanço inegável do conservadorismo e da extrema direita, no Brasil e em inúmeros países. Essa ascensão não se limita à economia ou à segurança pública; ela se manifesta com força na guerra cultural, tendo como um de seus principais campos de batalha a pauta de gênero e sexualidade.

Em meio a essa guinada ideológica, assistimos a um fenômeno particularmente perverso: a apropriação do discurso de “proteção às mulheres e meninas” como um escudo moral para discursos transfóbicos e de ódio. Em uma manobra de engenharia social, bandeiras que deveriam ser de inclusão e segurança para todas as pessoas que se identificam como mulheres são sequestradas para se transformarem em armas de exclusão.

Quando a "proteção" é, na verdade, uma forma de controle e de cerceamento de identidades, é urgente questionar: a quem serve essa narrativa?

 O discurso da extrema direita: manipulação e pânico moral



A extrema direita tem uma estratégia bem definida: usar a manipulação emocional, principalmente o medo, para gerar ódio e adesão política. O instinto de proteção familiar e parental, natural e legítimo, é distorcido para criar um pânico moral artificial.

Expressões como “banheiro unissex”, "homens de vestido no vestiário feminino" ou a falsa ideia de "crianças em risco" são tiradas de contexto e amplificadas em narrativas distópicas e mentirosas. A pessoa trans é transformada, na propaganda da extrema direita, em uma ameaça — a personificação do perigo à ordem, à família e, ironicamente, à própria mulher. Essa desinformação se espalha como um vírus através das redes sociais, impulsionada por fake news e campanhas "familistas" que, sob a aparência de defender valores morais, buscam apenas reforçar a hierarquia e o controle social.

Ao invés de combater a violência real contra mulheres (que é em sua maioria cometida por homens cisgêneros), a extrema direita redireciona o medo para um inimigo inventado: a pessoa trans, especialmente a mulher trans.

 Quando o feminismo é sequestrado: as TERFs e o caso das “Pink Ladies”



O perigo se adensa quando essa narrativa de exclusão encontra eco em setores que se autodenominam feministas. O termo TERF (Trans-Exclusionary Radical Feminist – Feminista Radical Trans-Excludente) define indivíduos e grupos que, sob a bandeira do feminismo, promovem ativamente a transfobia.

Essas TERFs defendem o chamado “feminismo biológico”, que restringe a categoria "mulher" a quem nasceu com sexo biológico feminino. Ao fazê-lo, elas instrumentalizam pautas legítimas de segurança feminina para atacar as mulheres trans, afirmando que elas são uma ameaça à “identidade” ou aos “espaços” das mulheres cis.

Exemplos recentes mostram como essa vertente tem se organizado. Grupos como as autodenominadas "Pink Ladies" e o coletivo "Matria" no Brasil (e similares em outros países) se apresentam como "defensores de mulheres", mas atuam com uma pauta agressiva de ataque aos direitos humanos e à existência das pessoas trans.

O sequestro do feminismo por essas narrativas de ódio é particularmente danoso, pois ajuda a legitimar o discurso da extrema direita. Ao mascarar o preconceito de "preocupação feminista", esses grupos fornecem uma base "progressista" e intelectualizada para a transfobia, tornando-a mais palatável e disseminável.

 O perigo da falsa proteção: quem fica de fora?



O discurso de "proteger mulheres e meninas", quando exclui mulheres trans, na verdade, não protege ninguém. A quem realmente serve essa narrativa é à manutenção de estruturas de poder cis-heteronormativas e patriarcais.

As mulheres trans são os alvos diretos dessa criminalização simbólica. Ao serem desumanizadas e pintadas como predadoras ou ameaças, elas são empurradas para uma marginalização ainda maior. O impacto psicológico e social dessa exclusão é profundo: maior solidão, mais violência (física e verbal) e a negação de direitos fundamentais. A vida da mulher trans, já marcada por índices alarmantes de violência e exclusão social (como mostram relatórios da ANTRA), é dificultada e colocada em risco por esse ódio institucionalizado.

É fundamental entender: proteger mulheres não pode, em hipótese alguma, significar restringir quem pode ser mulher. Se a segurança de uma depende da exclusão de outra, não se trata de sororidade, mas de hierarquia e preconceito.

 O que realmente significa proteger mulheres e meninas



O sentido original e verdadeiro do feminismo é a luta por liberdade, autonomia e segurança para todas as mulheres. O feminismo inclusivo reconhece que a opressão de gênero não pode ser separada de outras opressões, como raça, classe e identidade de gênero.

A verdadeira ameaça às mulheres – cis e trans – é o patriarcado, que se manifesta na misoginia, no machismo, na cultura do estupro e na violência de gênero, e não a existência de pessoas trans.

A construção de uma sociedade mais justa e segura passa necessariamente pelo papel da empatia, do diálogo e da educação. Acolher as mulheres trans é um ato de coerência feminista, pois a luta por um mundo onde os corpos e as identidades sejam respeitados e seguros é uma luta unificada.

A cortina de fumaça da falsa proteção cai por terra. A quem realmente serve o discurso que alega defender mulheres, mas criminaliza as trans? Serve apenas à manutenção do ódio e ao reforço das cadeias que o patriarcado nos impõe. O perigo não está no corpo que se afirma, mas na mente que manipula.



Neste embate, a MM MONTEIROS tem um lado claro: o da liberdade inegociável.

Quando o medo é transformado em bandeira para excluir e o feminismo é distorcido para justificar o preconceito, é nosso dever ético e político erguer a voz: Não em nosso nome!

Ser mulher, seja cis ou trans, é um ato de resistência e um compromisso com a autonomia. Nossa força reside na nossa união contra o opressor real: o machismo, a misoginia e o sistema que tenta nos controlar.

Acreditamos em um Feminismo do Futuro: aquele que acolhe sem perguntar, que cura sem julgar e que destrói barreiras, não pessoas. A liberdade de uma só é plena quando a liberdade de todas é respeitada.

Por todas as mulheres, de todas as identidades. A luta é uma só!

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