Tratamento de Princesa: A nova onda romântica da Geração Z ou um passo para trás nos papéis de gênero?
Do conto de fadas ao TikTok: Onde o romance encontra o algoritmo
Há uma nova palavra de ordem no universo dos relacionamentos da Geração Z: “tratamento de princesa”. A expressão, que antes vivia apenas nos contos de fadas da Disney, agora domina o feed do TikTok, Reels do Instagram e conversas de WhatsApp. Em meio a um cenário de relacionamentos rápidos e superficiais, a busca por um romance digno de cinema ganhou uma nova roupagem.
Esqueça o "mínimo necessário". A nova geração está cansada de ser valorizada por gestos básicos, como fidelidade ou mensagens de bom dia. Ela quer a experiência completa: flores inesperadas, jantares surpresa, portas abertas, a conta do restaurante paga e um nível de cortejo que muitos julgavam ultrapassado. É um contraste gritante com o que se via em gerações anteriores, que frequentemente normalizavam gestos superficiais em nome da "praticidade". Mas, afinal, o que move essa obsessão por um tipo de romance que parece ter saído de outro século?
O que exatamente é o “Tratamento de Princesa”?
Para entender a febre, é preciso definir o termo. O tratamento de princesa não se resume a gestos isolados. É um conjunto de atitudes que busca colocar a mulher em um pedestal, fazendo-a se sentir única e extremamente valorizada. Pense em gestos como:
Flores e presentes inesperados: Não apenas em datas comemorativas, mas para alegrar um dia comum.
Gestos de cavalheirismo: Abrir a porta do carro, puxar a cadeira, pagar a conta.
Atos de serviço: Preparar um café na cama, buscar o almoço quando a parceira está cansada, organizar um spa day em casa.
Validação constante: Elogios genuínos, demonstrações públicas de afeto e a sensação de que a parceira é a prioridade número um.
A diferença crucial é que esses atos vão além da cortesia básica. Eles são uma demonstração de cuidado, carinho e, principalmente, dedicação. A busca é por um romance que se manifeste de forma palpável, visível e que se destaque na multidão de relacionamentos efêmeros da era digital.
Por que a Geração Z está obcecada por isso?
A Geração Z, a primeira totalmente nascida e criada na era da internet, tem suas motivações bem específicas para abraçar essa tendência.
A ditadura do algoritmo: O TikTok e o Instagram se tornaram palcos de uma vida idealizada. Vídeos de casais perfeitos, com legendas como “Encontre alguém que te trate assim” viralizam, criando uma espécie de guia visual do relacionamento ideal. Essa exposição constante de "relacionamentos dos sonhos" molda expectativas e faz com que a busca por validação externa se torne um motor para a escolha de parceiros.
A cultura do “aesthetic”: Séries como Bridgerton e The Crown, com seus romances de época e estética visual impecável, criaram um imaginário coletivo. O tratamento de princesa se encaixa perfeitamente na cultura do aesthetic — a busca por uma vida bonita e visualmente agradável. O romance não é apenas um sentimento; é uma performance que precisa ser compartilhada e admirada.
A busca por conexão genuína: Em um mundo de ghosting, relacionamentos de fachada e conexões superficiais, o tratamento de princesa se apresenta como um farol de esperança. É a promessa de que é possível ter um relacionamento que vá além da rapidez do swipe para a direita. A Geração Z, apesar de sua fluidez, anseia por laços emocionais sólidos e, para muitos, o romance idealizado é uma maneira de encontrar essa segurança.
Visões em conflito: Críticas e debates em torno da tendência
A ascensão do tratamento de princesa não veio sem críticas. O debate divide opiniões e levanta questões importantes sobre o empoderamento feminino e os papéis de gênero.
O lado romântico: Para os defensores, a tendência é vista como uma valorização do romantismo e da atenção aos detalhes. É um resgate de gestos que se perderam ao longo do tempo, um lembrete de que o amor pode ser demonstrado de forma grandiosa e delicada. Trata-se de uma celebração do carinho e da dedicação, sem necessariamente reforçar desigualdades.
O lado crítico: No entanto, a jornalista britânica Emma Beddington, em um artigo no jornal The Guardian, classificou a tendência como “perturbadora” e um “retrocesso”. Ela argumenta que a prática reforça a ideia de que a mulher é uma “princesa” que precisa ser cortejada e “cuidada” pelo homem, o “provedor”. Esse modelo ecoa papéis de gênero tradicionais, onde o homem é o agente ativo e a mulher, a receptora passiva. O problema não está no gesto em si (o café na cama, por exemplo), mas no significado subjacente de que a mulher "merece ser tratada como princesa" e o homem "precisa tratá-la como uma".
O debate também se conecta diretamente ao feminismo contemporâneo. O movimento busca a igualdade de papéis e a autonomia das mulheres. A ideia de ser tratada como uma “princesa” pode ser vista como a antítese do empoderamento, que defende a mulher como protagonista de sua própria vida, capaz de se sustentar e de tomar suas próprias decisões, sem precisar de um "príncipe encantado" para isso.
Empoderamento ou retrocesso? Onde o tratamento de princesa se encaixa?
O paradoxo central do tratamento de princesa é este: ser tratada com carinho, respeito e atenção é algo universalmente positivo. O problema surge quando esses gestos são associados a um papel de gênero, ou seja, quando a mulher é a única a "merecer" esse tratamento e o homem, o único que "deve" fornecê-lo.
O tratamento de princesa pode coexistir com o feminismo se for baseado em reciprocidade, escolha consciente e igualdade.
Reciprocidade: O carinho e os gestos de romance não devem ser uma via de mão única. Em um relacionamento saudável e igualitário, a mulher também pode e deve demonstrar carinho, atenção e surpreender seu parceiro. A beleza está na troca, na generosidade mútua.
Escolha Consciente: A mulher deve buscar o tratamento de princesa por livre e espontânea vontade, não por uma pressão social ou porque a sociedade espera que ela seja “salva”. A escolha deve ser por um parceiro que a valoriza, e não por um que a coloca em uma posição de dependência.
Igualdade: O gesto de abrir a porta, por exemplo, não precisa ser um ritual de gênero. Pode ser um ato de cortesia mútua. O homem pode abrir a porta para a mulher, e a mulher pode fazer o mesmo por ele. O que importa é o cuidado, não o gênero de quem o demonstra.
O que essa tendência revela sobre os relacionamentos modernos?
Mais do que um simples modismo, o tratamento de princesa é um sintoma. Ele revela o desejo de uma geração por:
Ressignificação do romance: A Geração Z, exposta a uma enxurrada de informações e modelos de relacionamento, busca novas formas de amar que se alinhem com seus valores de igualdade, mas que também resgatem o que há de mais belo no romance.
Fuga da superficialidade: O cansaço de relações efêmeras e do "mínimo necessário" é evidente. A busca por um parceiro que se esforça para demonstrar afeto e cuidado é um grito por conexões mais profundas e autênticas.
Validação em tempos de incerteza: Em um mundo tão caótico, a busca por um parceiro que nos faça sentir especiais e priorizados pode ser uma forma de encontrar segurança emocional. O tratamento de princesa se torna, então, uma fonte de validação e de conforto.
Conclusão: Conto de fadas ou realidade em construção?
O tratamento de princesa é uma tendência multifacetada. Em sua forma mais genuína, é um lindo gesto de amor, carinho e atenção, algo que todos merecem. Contudo, quando a expressão se torna uma regra baseada em papéis de gênero ultrapassados, ela se torna problemática.
A chave está em separar o carinho do condicionamento. O verdadeiro tratamento de princesa não é um favor que o homem faz à mulher, mas sim uma demonstração de amor e respeito que deve ser mútua. A Geração Z tem a chance de reescrever o roteiro do romance, criando um novo modelo de relacionamento que seja romântico, sim, mas também profundamente igualitário e consciente.
E para você, o tratamento de princesa é um gesto de amor ou um retrocesso disfarçado? Compartilhe sua opinião nos comentários e vamos ampliar esse debate!








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